quinta-feira, 21 de outubro de 2010

guerrilha memética

Agora, nessa manhã fria e ensolarada de Curitiba, penso até que devo te pedir desculpas pela tamanha veemência de meus argumentos em prol da Gang de ontem à noite. É que meus brios justiçeiros foram cutucados por alguns fatos externos e internos referentes ao cenario musical de Pindorama.

Fato um. Os Aviões do Forró - esta reencarnação de Jackson do Pandeiro - finalmente gravaram um DVD decente, sob a tutela da Som Livre, em Salvador. Chamaram a Ivete Sangalo para participar, num claro tributo à arte da obviedade. Também tentaram encaixar Jorge & Mateus, em outro tributo, desta vez ao oportunismo comercial. Mas veja, o terceiro convidado foi o Humberto Gessinger do forró: Dorgival Dantas. Nada contra este talentoso compositor, mas Meguita of Sky, descasque o seguinte abacaxi: porque cacete de asas não escalaram o Forró do Muído? Simone e Simaria estão prontas para o sul e sudeste. Simone e Simaria são dois ícones. Você dá dois cliques nelas e a janela do forrobodó se abre!

Fato dois. Quem pensa que o pagode baiano está representado e cristalizado e cartãodevisitaneado por Rebolation está circular e esfericamente enganado. O cânone inaugurado pela modernização do samba de roda do Recôcavo inaugurado pelo É o Tchan produziu uma cena maravilhosa. Só que nem só de vantagens vive o carnaval privatizado baiano. Interesses comerciais escusos estão cometendo injustiças atrozes. Existe lá um cara que é uma mescla de Chico Science e Carlinhos Brown, que teve o dom de criar uma banda chamada Fantasmão, onde produziu pagodes (lá eles chamam de swingueira) com letras com forte cunho social, coisa inédita. Agora ele canta solo - a história dele é longa, não cabe nesse e-mail - e foi convidado a participar de um conceituado festival internacional de percussão. E participou. E a repercussão na imprensa baiana - motivada, repito, por escusos interesses comerciais - não só foi nula, como negativa!

Fato três. E esse é o fato interno supracitado. Sobre o sertanejo pop (curiosa e sincronicamente o tema da minha coluna recente) a Revista Veja estampou na capa: o "Brega virou pop". Te pergunto novamente: até que ponto se estenderá a cegueira de nossa "elite cultural" que se nega a reconhecer a riqueza musical produzida em nosso país? Aqui peço licença poética para usar a expressão brega de cú é rola! Ao ler a matéria uma ficha caiu em minha mente e quando isso ocorre eu tenho o hábito de ser mala comigo mesmo.

Explico.

Resolvi ler pela segunda vez em menos de um ano o livro Verdade Tropical do Caetano Veloso. Na primeira vez tratou-se de uma tortura chinesa que tinha imposto a mim mesmo, posto que odiava o Caetano. Desta vez foi imposição de minha intuição. Quando Caetano e seus baianos, no final dos anos 60, criaram o movimento da Tropicália, queriam implodir o sectarismo que existia entre a dita MPB, a jovem guarda e a cultura pop internacional.

Minha intuição – pelo menos é o que estou entendendo dela por enquanto – pareçe estar querendo me dizer que algo semelhante deve ser feito atualmente. Sertanejo é cultura de massas. Pagode é cultura de massas. Forró é cultura de massas. O nosso Tecnomelody idem. Existe um antagonismo gritante entre esses gêneros e a MPB e o tudo o que é considerado de “bom gosto” nesse país.

O que estou tentado te dizer, coleguinha Meg, e que uma nova tropicália se faz necessária. Desta vez não integrando à MPB a cultura de massa externa, mas sim a cultura de massas interna. Não seria bacana que o próprio Caetano se atentasse a isso e fizesse um reload de seu movimento dos anos 60? Estamos entrando nos anos 10, meio século se passou. No ano passado me engajei em procurar idéias que gerassem fatos, nesse ano inverti a lógica, busco fatos que gerem idéias. Bom, os fatos estão aí e a idéia - ainda um embrião, admito - é essa.

Me desculpe pelo e-mail longo. Me desculpe pelo tom de desabafo. Mas trata-se bem disso, de um e-mail longo e de um desabafo. E também de uma bela e merecida puxada de orelha, porque se você me conseguir logo aquela porra daquele blog tão adiado, poderei dar vazão a todos esses meus sentimentos. Poderei trabalhar melhor essa idéia, que por estar exposta em um portal de peso, será talvez mais ouvida e mais lida. Poderei transformar essa idéia em uma obra. Uma obra de arte, porque não sei se você já se atentou, não tento fazer jornalismo, tento fazer arte e literatura.

Pra finalizar, parafrasearei o próprio Caetano, roubando o título do blog que ele tinha. Meu blog no portal ORM poderia se tornar uma Obra em Progresso.

Prontofalei e não fale pra ninguém que um dia na vida eu tive a bichiçe de sentar pra escrever um e-mail tão passional.