segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Nando Reis é um cara bacana, boa praça mesmo. Seu novo DVD, lançado no final de semana passado está aí para confirmar isso. E mais. Trata-se de uma demonstração de coragem e atitude diante da pasmaceira e mediocridade generalizada que impera entre os artistas da MPB. Para o que ele definiu ampliação de suas próprias fronteiras, chamou para participar do show alguns dos nomes mais desprezados palo status quo: a Banda Calypso e a dupla Zezé di Camargo & Luciano.

O repertório também não foi nada convencional. Tem Roupa Nova – a banda mais subestimada deste país – Calcinha Preta, Wando e também o anátema da crítica especializada: Guilherme Arantes. Não faltou gente dizendo que trata-se de uma suicídio comercial. Balela. É visonarismo dos bons, isso sim. E está faltando gente com visão nesse país.

É chocante constatar que o sexagenário Caetano Veloso seja uma das únicas vozes a afirmar em palestras, congressos e entrevistas que a Banda Calypso é revolucionária, que a nova cena do pagode baiano é riquíssima. Com isso em mente resolvi esse mês reler seu livro Verdade Tropical e acabei por contatar paralelos interessantes entre o cenário musical atual e o do final da década de 60.

Quando Caetano e seus baianos se mobilizaram para criar um movimento que acabou por receber o nome de Tropicália tinham em mente implodir o sectarismo que existia entre a dita MPB séria e engajada, a jovem guarda e a cultura de massas internacional. Se observarmos com atenção, hoje em dia este sectarismo voltou a ocorrer. Esse DVD novo do Nando Reis – por sua pecularidade – e as declações de Caetano – por sua singularidade – são exceções que confirmam a existência de uma regra. Sem medo de errar, afirmo aqui nesta coluna que uma nova Tropicália se faz necessária. Só que com um pequeno desvio de rota.

Ao invés de integrarmos a nossa MPB séria à cultura de massas internacional, devemos integrá-la à cultura de massas interna. Sim, existe uma cultura de massas genuinamente brasileira em plena vitalidade, embora a crítica se recuse a considerá-la como cultura. Igualzinho ao que ocorria nos 60 com relação ao pop americano, era considerado lixo cultural.

Gente! Sertanejo é cultura de massas. Pagode é cultura de massas. Forró é cultura de massas. O nosso Tecnomelody idem. Existe um antagonismo gritante entre esses gêneros e a MPB e tudo o que é considerado de “bom gosto” nesse país.

Não seria bacana se o próprio Caetano se atentasse a isso e fizesse um reload de seu movimento dos anos 60? Para que uma ruptura paradigmática ocorra no senso comum, precisamos de nomes de peso do nosso lado. Estamos entrando nos anos 10, a década da imagem de um Brasil Pop perante o mundo. Amazônia, Pré-Sal, Copa do Mundo, Olimpíadas, as evidências são várias. Todas as atenções estarão voltadas para cá na década que se inicia. E que música pop apresentaremos ao mundo? Essa MPB rançosa que chafurda na herança maldita da bossa nova? Espero que não.

Eu costumo brincar que a Tropicália usava o mote antropogagia para conceitualizar seu movimento e que agora temos que mudar para autopofagia. Expliquei minha teoria para o porteiro do prédio onde eu trabalho. Ele coçou a barba e como é daquelas pessoas que quando se comovem com alguém que tenho um problema sem solução, sempre tentam ajudar, me veio com essa:

- Que tal fazer um Reality Show com essa gente toda? Essa coisa de manifesto, movimento, isso não cola mais hoje em dia com essa moçada que só quer saber de Internet.
- Como é que é?
- Ponha esse povo todo, esses cantores, trancados todos juntos dentro de um estúdio por 90 dias e vê o que eles conseguem fazer.

E não é o que o seu Amaral, mesmo provavelmente não tendo entendido patavinas da minha cantilena sobre Autopofagia e nunca tenha ouvido falar da Semana de Arte Moderna, conseguiu intuir uma parada bacana. Imaginem se um canal de TV abraçe essa ideia e convoquem para um confinamento criativo a Gaby Amarantos, o Maderito, o Waldo, o Chimbinha, o Sorocaba, o Victor Chaves, o Edu Luppo, o Belo...? Seria, no mínimo, interessante, e no máximo, a salvação da MPB

E tudo teria aído da cabeça de um porteiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário